quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Chi son? Sono un poeta.
Che cosa faccio? Scrivo.
E come vivo? Vivo!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Apenas queria matar os restos que insistiam em viver. Dominar os sonhos. Correr da vida como abraçar a morte. Era cruel, contudo, dava-lhe satisfação. Entendeu cada pedaço de si como restos que lhe sobravam. Por sobra, eliminados poderiam ser sem problemas. Conseguiu um resto de solidão sobre uma banca na beira da estrada: tomou para si como posse única de tudo o que teria em diante. Pegou dois remos abandonados ao rio. Singrou até não mais aguentarem os braços. Não mais havia esperança. Sua alma cansou de esperar. Morreu tudo. Não plantou nada para que germinasse. Teve medo de colher o fruto amargo da vida mais uma vez...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Baixando o sol, iniciava o sonho de um dia partir dali. Não era tão distante o destino a ser tomado. Com alguns minutos, veria a terra esperada, ou desesperada. Alguns dias, muitos, foram-lhe necessários por distância. Talvez o sonho fosse a forma mais concreta de estar junto de quem buscava. Não era apenas um destino: turbilhão de acontecimentos que se forjavam sem parar diante dos seus olhos. O amor era apenas uma dúvida inquietante de outrem que nada falava ou agia. Deixava a inércia prevalecer como forma natural de uma realidade oculta de matéria inexistente. Pensou a partida por um destino, e posteriormente, anunciava-se outro. Os minutos corriam velozes e as horas desencontravam-se. Seu coração apenas desesperava-se de não mais possuir destino. Tudo era dúvida: o destino, o gostar, a dor, o amor, a permanência. Nada exato era. Nada exato fora. Sem destino, nada percorreu. A dúvida transformou-se no ato de nunca mais verem-se. Partiu para outro céu. Num outro lugar. Talvez jamais o vejam. Morreu para tentar renascer. Se conseguir, será vitorioso. Se não, morra-se, enfim, a vida deste outrem como um nada disperso em si mesmo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Não esperava dor, contudo, sonhos e graças de um novo amanhecer. Desconheceu as dúvidas e dividiu o desespero consigo mesmo. Talvez o tempo o ensine o desprezo do desespero e a beleza do instante vivido. Caminhou alguns passos e percebeu-se só. Contemplou o que pisava. Percebeu o futuro sob os pés. Conhecia cada dor e angústia da alma. Breve o tempo e longo o espaço da espera. A brevidade significava os restos. Sopro marcado de tempo sem instante. Desistiu de sonhar. Depositou-se na angústia de se esvair. Não encontrou o presente no passado: o passado de outrem era a dor do seu presente. Caminhou para o nada e sempre se deparou com esse passado carregado de futuro e de presente. Deixou de existir a si mesmo. Desfaz-se nas poucas lágrimas que ainda possuía o seu olhar. O passado era tão presente: enclausurou o coração. Morreu na esperança de renascer. Esperou o sol para secar a semente: ele nunca apareceu. No entanto, seu passado estava seco; o de outrem, latejava em suas veias. Não renasceu. Morreu na esperança de esperar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Era noite. Desértico, o seu sonho insistia em sonhar. Não era necessário fechar os olhos. Tudo estava à sua frente. Estático, via cada minuto esvair-se como os segundos... Reconheceu nos sonhos realidade... não a que se buscava, contudo, seu oposto. Presenciou miséria num ato de saudade. Escondeu-se da própria sombra, e por esconderijo, sobraram-lhe as lágrimas. Talvez a sua miséria fosse ser quem sempre foi: ter amado mais aos outros que a si mesmo. Desfez-se de tudo o que havia em si: entregou-se demais... perdeu todos os seus segundos pelos outros... nada sobrou, apenas ele, desfeito, em pedaços...
Das suas últimas palavras nasciam as primeiras. Os olhos desconheceram a miséria do coração e partiram em busca do eterno. Compreendeu cada segundo como eternidade do que fica. Brotou tudo o que existe numa única forma de ser. Veio com o tempo num pedaço de saudade e perdeu as dúvidas na breve chama de uma vela que se calou. Olhos vistos nos de outrem e encontrou-se como busca fatal ao que lhe faltava. Achou em si o último suspiro da saudade vindoura do segundo anterior. Sentiu o peito arder em chamas e compreendeu a saudade na permanência profunda de sempre ficar. Olhos os próprios olhos e percebeu o lugar de onde sairiam as lágrimas nos próximos dias. Caminhou com a fé que lhe era própria. Não perdeu, até agora, seus últimos passos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

... e do que era fragmento, apenas sobrara restos. O sol escondia seus raios. Era tempo de partir. Nunca partiu antes do amanhecer. Esperava nascer o sol, quantas vezes necessário fosse. Perdeu alguns pensamentos na espuma de uma onda que lhe molhara os pés. Esqueceu que vivia durante o sono banhado pelas águas de um mar nem tão calmo ou feroz. Todavia, era momento de partir mesmo sob a lua. Não lembrara sequer o rosto que possuia. Apenas esperava à beira do abismo. Uniu-se à solidão em um momento de dor. Deitou pão e vinho sobre a areia alva. Corpo e sangue enfraqueciam diante do desespero de saber que se perderia de si mesmo em poucos instantes. Acreditou apenas que não mais existiria. Distante, próximo, onde fosse, havia recuperado a dor. Escrevia uma história: "Um homem vivera 25 anos perdido da sua imagem." Assim iniciava o grande caminho a ser percorrido...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Neste dia ensolarado com nuvens escuras ao céu, iniciei minha leitura de Pirandello. Quanto mais passava as páginas, mais identificava-me com Moscarda. Agora já somos amigos de longa data e conversamos sobre as nossas necessidades do dia a dia... até percebí que tenho um ombro mais elevado que outro... Tive de parar a leitura: Chartier me espera para uma longa entrevista em espanhol... e vocês sabem muito bem como Roger é ocupado... ele não pode ficar esperando minha conversa com Moscarda... Também não sei o que estou fazendo aqui escrevendo. Esse tempo presente carregado de passado... ai, Deus... sofro tudo isso calado...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Ao despertar do primeiro raio de sol, saíra sem rumo pelos caminhos até então desconhecidos. Descobriu que não era tão cedo assim como pensava. Era tarde. Ou melhor, era o tempo inoportuno para a sua descoberta do infinito. Não encontraria jamais a sua forma de ser em si mesmo. Procurou outras formas que lhe entregassem aquilo que desejaria em si. Encontrou apenas solidão em um peito sangrando desesperadamente. Descobriu a ternura em apenas um olhar: o da Virgem que lhe observava no quarto onde dormia. Sempre descobrira dor. Mesmo que desatasse o céu, as nuvens desfaziam-se feito os sonhos. Permanecera na dor de sofrer tudo o que lhe era necessário. Descobriu a solidão. Prostrou-se à beira do caminho e refletiu sobre o seu vagar. Nada havia feito para que fosse além do que era. Todavia, caminhou léguas perseguindo os sonhos naufragados no mar de solidão. Perdeu tudo em um pequeno barco. Não possuía tantas coisas. Entregou alma e coração sangrando aos que assim o pediram. Recebeu solidão e saudade. Reconheceu miséria no peito. Não descobriu o infinito.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Atormentava-lhe o coração a doçura daquele dia. Sabia que não seria assim por todo o tempo. Esperava o grande temporal da sua vida. Todo o tesouro que havia em si fora desfeito. Convertera-se apenas em dor. Tudo passava, apenas ele permanecia em sua miséria. Não conhecera o amor. Apenas, dele, fragmentos. Procurou-o em todos os espaços e apenas obteve desconsolo. Não conheceu a vida.Teve medo de perder-se entre os mares a ele oferecidos. Caiu em amargura quando os sonhos ainda poderiam ser realizados. Sentiu o odor da felicidade, todavia, dele se afastou. Escreveu cartas para si mesmo. Fez amizade com os papéis e esqueceu dos homens. Conquistou espaços de papel e tinta. Perdeu espaço nos corações. Seus frios terrenos não plantavam sentimentos ou acções. Apenas conheceu a solidão. Sonhou e não realizou. Suas mãos não tocaram o absoluto dos dias. Não teve a chance de refazer-se. Esperou cair do céu as oportunidades quando elas são construídas com as próprias mãos. Fabricou dor e ódio percorrendo passados que não eram seus. Viveu dos passados de outrem. Tentou substituir-se e refazer-se a cada segundo como espaço dos outros. Não conheceu a sua própria história. Teve medo de contar a sua própria vida sem muito interesse e a narrou como não sendo sua. Escreveu tantas folhas de papel... Perdeu o sentido de viver. Ganhou formas de narrar. Tantas histórias sem sentido construiu: só ele sabia cada palavra por valor. O discurso era objecto de uma prática sentida na carne. O poder de fazer conhecer-se era reflectir sobre o seu próprio ser como semente sempre lançada à terra buscando renascer. Seria necessário morrer para renascer frondoso. Nunca teve sorte com a terra semeada. Inculta a terra; estéril a semente. Jamais haveria vida destas receitas. Pensou o problema como sendo dele: ele era problema. Não possuía nada em si. Inútil, não servia. Uniu-se a si mesmo e concebeu-se como resto daquilo que ficara: ele era apenas sobra incerta de um sonho mal sonhado. Sua finita estrada findou sob seus pés. Ele se terminou e procurou novo início: não soube como recomeçar.

domingo, 11 de outubro de 2009

Já é tarde. Meus sonhos rastejam a memória daquilo que não é. Partindo de mim para outrem, vê-se perdido diante da realidade incorruptível e mentirosa dos olhos. Observava todos os lados. Poderia ser preso a qualquer instante por uma armadilha perdida diante de si mesmo. A morte era o de menos. Pensava nas palavras como formas concretas e mutáveis de sentido. O futuro era o reflexo da solidão do hoje. Apenas a areia alva da praia exorcizava as ideias sem nexo que se reflectiam em seu coração. Reconheceu sua miséria no último pedaço de pão mofado que recebera em seu quarto na noite anterior. Pingava-lhe às mãos as gotas de sangue e o vazamento que corria solto em sua cabeça. As janelas reflectiam uma fresta de luz, mecânica, não solar. Imediatamente, os raios contidos na sua memória, pululavam como formas concretas de absorver no passado, o presente. Reconhecia cada passo dado à distância de mil léguas. Reconhecia a cor da noite e o desespero dos seus. Reconheceu um grito desesperado, que saia da última noite que repousara em delírios sucessivos de dor e ódio. Seu coração era uma janela para o infinito. Ele se cruzava em dor e desespero e se crucificava com o Cristo em sua cruz. Aos seus pés, sabia das dores e dos desesperos. Como uma ovelha que não geme e é levada ao matadouro, assim ele permanecia. Calado, esperava a hora da sua morte como a vida se ia... cada gota suada era o sangue vertido sobre o chão. E se observava lentamente sob as luzes de um candeeiro. Uma voz lhe acordou do pesadelo. Contudo, ele voltava ao lado do que era seu, e desesperava aquilo que era esperado. Recobrou o sono, desfez as vestes de mortalha. Abriu a porta, e olhou a claridade que o cegava. Cego, não enxergava a realidade do mundo, e logo que descobriu os primeiros raios, deitou sua inocência ao chão, e desfez parte da sua integridade. Era um futuro incerto e medonho o daquele dia. Era um dia sem perspectivas de futuro, de sonhos e de dor. Apenas ia criando conceitos e metas sem muita pretensão de serem verdadeiros. Observou passos e passadas... reflectiu sobre o luar e perdeu tudo o que tinha num amor mal feito e desiludido. Perdeu todos os seus sonhos. Ganhou miséria no coração.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

...e quando ainda insistia em sobrar os restos, eu depositava o que havia de passado em meu presente, e construía uma nova vida em cada um dos fragmentos depostos. Percebi a realidade como forma confusa de se crer. Apostei na brisa e o tempo me presenteou chuva torrencial. Desacreditei nos meus dias – e também nas noites – e desfiz meus sonhos... não tenho mais nada no que pensar a não ser na construção dos outros. Minha obra não tem início, e por isso, não terá fim. Meu fardo é pesado e meu sangue corre pelas mãos como se fossem gotas de suor – essas banham meu rosto. A quentura do sol me faz perceber que ainda é dia. Posso caminhar dez passos no valor de mil. Não seria necessário descrever as minhas súplicas aos céus ante minhas necessidades. Confesso que não vivi e jamais hei de viver. Carrego em mim certezas desmedidas com sopros de solidão construídos nas sobras de areia trazidas pelo vento e unidas pelas águas. Talvez um dia eu possa vislumbrar tua face e reconhecer a verdadeira alegria. Por esse tempo, só revelo tristeza em meu olhar e o mais profundo sentimento de não sentir nada. Tudo anulado como se nada fosse ou permanecesse. Como se o passado fosse somente passado e o presente uma cópia idêntica e fiel a ele. Não acredito em tempo cíclico, contudo, desde já, passo a acreditá-lo em minha história. Confesso minha pouca experiência na arte de escrever e de contar histórias, mas como as sei, vou tentando lhes impor meus dias.
Hoje as coisas estão meio escuras como um dia após a tempestade. Apenas restam o desespero e a consciência de que é necessário que tudo seja reconstruído. Minhas dores vão aumentando ao perceber a quantidade de folhas de papel que me são impostas por leitura e quantas mais me esperam, em branco, por serem redigidas. Muitas outras... Homens esperam por um destino dentro de minha cabeça e dentro dos jornais e cartas... Homens que um dia julgaram, serão julgados por mim, depois de alguns séculos. Pode ser que eu caia na mentira de alguns deles como verdade. Pode ser que ante um céu coberto de estrelas e desnudo de nuvens, eu diga que tudo estava certo para uma chuva torrencial. Era tudo mentira daquele senhor. E eu me pego propagando a mentira por tantos séculos negada e refeita, absorvida e comparada. Comparada e comprada por doces e notas de uma faculdade...
Homens brigam e choram desde sempre. É perceptível como brigam. E concordo que as folhas de jornal parecem ruas banhadas em sangue. São paralelos vivos de tribunas inflamadas... pode ser, que mais uma vez, as folhas amareladas e discretas, contenham as mentiras de ontem, hoje... e eu caia nas malhas de um discurso refeito e mal feito, e de tão mal feito, tornou-se bem feito e me mentiu. Acreditar nos outros... é isso que dá... e em político??? Pior ainda... E eu julgo o amor pela sua capacidade política de ser.
Confesso que me engano a cada folha de jornal aberta ou a cada carta lida. Confesso que ao confessar-me, dou-me conta de que minto tão quanto minhas fontes. Tudo é discurso. Construção de poder. E se assim fosse, tudo não passava de folhas de papel. Eu ainda acredito em discursos inflamados e deputados defendendo seus ideais – tire-se por ideais os seus interesses próprios. Eu acredito e desacredito. Na verdade, hoje, apenas acredito no meu sono, que é bem maior que minhas palavras e não me faz pensar em nada. Acredite: tudo o que escrevi aqui é mentira. A única coisa que acredito hoje é que eu existo, e ainda acredito com ressalvas.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ao ver-se reprimido pela súplica de um coitado que por ali passava, sentiu saudades das noites ao relento. Caminhou sem saber aonde chegaria, e encontrou um bosque mortal à calmaria dos seus sonhos. Esqueceu quem passava e fitou seu passado na forma concreta de receber o presente. Morria aos poucos quando a vida o entregava morte. Sonhou aos poucos, quando poucos sonhos ainda restavam por sonhar. Perdeu a memória quando do primeiro raio do sol fugia e renascia a noite calma do seu eu disperso nas palavras ásperas da solidão. Partiu ao desconhecido sentindo saudades da dor. Desconheceu o prazer da alma e desconjuntou seu ódio nas lágrimas percorridas por sua face medonha. Esqueceu que ainda podia viver e viveu esquecendo que poderia morrer. Não era sonho. Tudo era real como nada imaginário fosse. Recolheu suas últimas esperanças num vaso e recolocou sua alma num pote de saudade. Adoçou a matéria das suas mãos com um leve sonho de risos. Contudo, era apenas sonho. Pensou que lágrimas lavavam almas, mas percebeu que lágrimas apenas lavavam olhos. Conheceu as duras penas da prisão do seu próprio ser, e se prendeu na miséria de hoje, pensando na miséria de outrem, ontem. Não deixou de chorar. Quanto mais calava o corpo, a alma desconhecia as virtudes secretas do seu eu. E ele pousava os sonhos em uma casca de ovo e devolvia-o a terra perdendo a graça de criar uma nova criação. Não morreu e nem viveu. Apenas avistou o mar e escutou música. Percebeu alguns gritos desesperados e mal marcados, e contou as horas como fossem segundos. Fugiu daqui para o fim do corredor estático como a certeza de não mais querer falar ou abraçar. Porém, ouço os seus passos repetidamente e em cadência, e subo às portas de minhas armadilhas para que ele não me leve. Eu apenas queria um pouco de paz junto de você, ele me disse. Mas, prefiro a solidão dos silêncios fáceis e a face da saudade do que ainda pode vir. Soaria nova voz na dimensão dos meus ouvidos e diria que volto na tinta de uma caneta mal escrita. O vento que sopra me acolhe na calma. Eu sou filho de mim mesmo e me suporto aqui onde vivo. Se não mais vivo, é que me tiraram vida e alma, coração e sofrimento, e me entregaram um prazer que não queria. Descobri aqui, uma nova maneira de ser quem sou. Descobri que posso renascer quantas vezes quiser e for necessário: basta você deixar. Lute por mim e te entregarei as chaves que precisas. Se preciso for, morrerei de novo, e te entregarei tudo. No calar do meu sorriso...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

...e perdido eu encontrei-me em meio a um turbilhão de acontecimentos que se desaconteciam aos poucos. Esqueci-me do tempo perdido: voltei a recuperar todas as formas de ajeitar minha alma. Tudo ia voltando ao normal quando se virou de forma inexacta diante de mim. Vi apenas o desmoronamento do meu ser. Vivo a constante tragédia de viver o desvivido. Continuo preso ao desespero dos meus sonhos. Imagino realidades impossíveis e busco provas do meu desespero. Espero na calma de esperar e desespero no encanto de desfazer. Pelos dias de nossa existência, vamos descobrindo diversos mistérios ocultos aos nossos olhos. São internos e necessários à nossa presença por essas transitórias terras. Creio que no dia mais próximo de nossos acontecimentos, possamos seguir adiante como se nada houvesse acontecido naquilo que ficou. Aposto na inveja que os olhos possuem das mãos, por apenas vêem e não terem o direito de tocar. Incertos são os dias que se passam e permanecem gravados na alma através dos olhos. Poucas são nossas virtudes construídas com as mãos. Creio no passado mais presente possível. Acredito nas dúvidas e incertezas de amanhã, partindo das certezas incertas de hoje. Não visualizo a dimensão da alma como concreta e retirada do ser que vive sem viver. Proclamaria novas tardes sem a diminuição do sol. Creio que as chuvas amenizem a visualização das minhas lágrimas e se portem como anexos aos meus sentimentos instalados no coração. Quando das angústias, marco minha miséria pelo teu passado e erradico minha alma da minha vida.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Hoje o dia se faz claro. A chuva de ontem ainda molha a terra e o meu rosto. Muito mais: lágrimas descem dos meus olhos como forma de reconhecer em mim aquilo não percebido em outrem. Observo miséria e angústia. Desfazem-se os laços atados às minhas mãos e tornam-se atados à minha alma. A distância próxima me aflige. Talvez o tempo me ensine que na vida as coisas não são sempre como devem ser. Desconheço meu tempo oportuno e desfaço meus sonhos como forma de agir livremente: continuo preso aos teus laços. Talvez, o que na verdade queiras, é tirar os laços de minhas mãos e ata-los ao meu pescoço. Entregastes-me tudo e agora me deixas no nada. Tudo é sentido como se fosse nada. Penso na minha angústia e reconheço apenas solidão. É doce sofrer o sentimento sentido. Num céu claro, são destruídas as verdades da escuridão da alma. Eu sigo com a crueldade do teu coração suplantando a coragem do meu. Espero apenas uma palavra. Apenas uma, de bondade ou maldade. Trair minha fé não é motivo de trair a minha alma. Nesse dia onde a dor me consome, adormeço em meus próprios braços. E percebo que nunca senti a chama do amor, só a crueldade da alma. Suspiros de dor. Reconheço em cada traço meu, algum pedaço deixado pela tua presença. Não mais me reconheço em mim. Apenas queria rever teus olhos para observar-me. E quando não mais vir-me em teus olhos, é quando saberei da negação da minha existência... já nego-me desde então...

domingo, 26 de julho de 2009

... e quando das suas ultimas palavras, suspirou do que ainda havia em si, e se foi. Mesmo sem saber quais as palavras, supunha um gemido de dor, mais intenso que a sua própria morte. Morreu sem saber verdadeiramente quem era. Na verdade, nunca viveu. Apenas deixou-se levar pela brisa que molhava seu rosto nos momentos distantes do brilho do seu olhar. E se foi. Indo, desistiu de si próprio e carregou na alma as poucas pessoas com quem se viu. Poucos foram os diálogos que compreendeu na sua breve vida. Não soube amar, e assim, morria só, contudo, acompanhado dele mesmo. Sabia bem que era o seu último dia. Seria obvio contar os detalhes da sua morte, mas prefiro narrar os mistérios embutidos na alma que se foi sem levar, se quer, um adeus.
Não sabia perdoar, contudo, morreu perdoando a si próprio pelos males e crimes que cometeu contra ele mesmo.
Hoje apenas avista o mar. Já cansado, crê que morreu, que nada mais pode existir depois do nada. Sua vida morreu... por não ser nada, afogou-se ao mar de suas misérias e reconheceu em cada olhar um pouco do nada que havia em si.
Morreu apenas para que os outros vivessem em paz. Morreu. Não deixou parentes ou amigos. Apenas soube que no ultimo lugar do universo, alguém sem nome o esperava, mas de tanto esperar, fechou os braços e também se foi.
Pobre dor de existir. E o nada foi marchando de encontro a si mesmo e se foi. A única certeza que tenho é que não deixou saudades e nem dor. A outra, é saber que esse homem sou eu.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Passados alguns dias, descobri a complexidade do tempo. Forjaram-se em minha alma perguntas não ditas pelos olhos, contudo, conhecidas do coração. Desconhecendo meus anseios, descobri que a verdade vai além de olhar e ver no outro aquilo que sobra de nós. Seria melhor se compreendêssemos do outro aquilo que falta em nosso ser. Pretendi reconhecer na minha alma as angústias do dia passado. Vi o sol criar-se e desfazer-se como algo que não se contrai. Vi minha vida nascer e pôr-se com o sol. Penso sempre que tantas vezes é necessário que a semente morra para que germine. É matando a vida de hoje que renascemos. Com o sol aprendi essas necessidades. Aprendi a possibilidade do fim do medo e também da coragem. É sempre bom pensar a coragem como algo construído e talhado na alma. Fazer o coração reconhecer a coragem e destruir o medo é ver-se e recriar-se quantas vezes for necessário. Prefiro trazer as pessoas gravadas na alma; é muito melhor que traze-las apenas no coração. Imagino que o coração frágil, perece, e assim, as pessoas se vão junto à podridão de nossas angústias. Carregando na alma, não teremos o problema de perecer. A alma não morre. Onde estivermos, carregaremos aqueles que amamos sem o medo e a angústia de não os termos mais: assim como a alma, não morrerão. Tornar-se-ão um em nós. Assim, construímos vida: o que falta em mim e há em você, está em mim de alguma forma. Nós, juntos, somos um.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Minha alma cansada cansa na esperança de esperar. Só, eu sigo caminhos jamais percorridos. Contudo, já os percorrestes desde sempre. Desconheço minha visão e meu cansaço. Apenas basto nas batidas descompassadas presenteadas pela alma ao coração. Ouço o resto da melodia dispersa dos pensamentos e penso na volta de um céu tão claro quanto fora em sonhos. Nunca possuí um céu, apenas desejei paz. Descobri que a vida não é nada mais que alguns dias passando frente às duras penas dos caminhos despercorridos pelo cansaço. Findo meus dias. Percorro caminhos desconexos. Espero... esperando espero o dia que deixarei teu passado não mais tomar conta do meu presente. Deixarei a imagem eternizada em meu olhar diluir-se em lágrimas ocultas aos meus olhos. Porei vida na minha vida quando descobrir que teu passado não é meu e minha dor de hoje é fruto dos teus atos. Descobrirei a forma certa de ajustar o desajuste de meus sonhos. Não posso fazer nada: você já (des)fez tudo. Dói saber quem és, muito mais, saber que em nada mudas... és igual... em tudo...
O mar segue pedindo a minha alma... entrego apenas a voz, nas poucas lágrimas escorridas pelo rosto. Vou desistindo de mim.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

E o céu continua escuro como sempre. Vejo muito além da calma do mar e das revoltosas ondas que batem contra minha alma. Busco uma ilusão perdida no espaço mais escuro de meus pensamentos. Encontro apenas o pó de um passado que não é meu, mas suponho que faça parte de meu presente. Acredito em virtude quando ela não mais se desfaça em ilusão. À vida, dou apenas alguns segundos de crédito diluídos em lágrimas, suor e sangue (adicionados ao pó de teu passado edificam a dor presente em meu peito). Acreditar não é muito mais do que ser. Acredito que não mais acredito. Sinto o gelar das mãos e o frio da alma...
A chuva cai. Insuportavelmente sigo os caminhos mal percorridos por outrem, que não eu. É teu passado que me deixa assim: inquieto, magoado, descrente...
E tudo continua vazio como estivesse pleno, repleto. As ilusões nos preenchem mais que as verdades, e as verdades dão razão às nossas inquietudes. Espero na certeza de um vazio repleto de plenitude.

sábado, 23 de maio de 2009

Vivemos improvisando nos palcos dos dias. Cada dia é um novo palco, e improvisamos a vida. E viver a vida, é estar sempre de improviso. As vezes é preciso ensaiar cenas de drama, outras de humor... O necessário é sempre estar com o papel pronto e apresentar sem medo. A vida é isso, não é jogo, mas se precisa jogar. É necessário entender cada jogada, cada cena, e assim, prostrar-se diante de si mesmo e dizer: o tempo é agora.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

LLAMA DE AMOR VIVA

1. ¡Oh llama de amor viva, que tiernamente hieres de mi alma en el más profundo centro! Pues ya no eres esquiva, acaba ya, si quieres; ¡rompe la tela de este dulce encuentro!
2. ¡Oh cauterio suave! ¡Oh regalada llaga! ¡Oh mano blanda! ¡Oh toque delicado, que a vida eterna sabe, y toda deuda paga! Matando. muerte en vida la has trocado.
3. ¡Oh lámparas de fuego, en cuyos resplandores las profundas cavernas del sentido, que estaba oscuro y ciego, con extraños primores calor y luz dan junto a su Querido!
4. ¡Cuán manso y amoroso recuerdas en mi seno, donde secretamente solo moras y en tu aspirar sabroso, de bien y gloria lleno, cuán delicadamente me enamoras!
(S. Juan de la Cruz)
Hoje pela manhã, quando o sol ainda não despontara, ergui meus olhos aos céus e descobri que sentia saudades. Era algo na alma. Quanto mais observava o firmamento, mais firmemente eu sentia o tremor de minhas mãos. Sentia que como eu o esperava, ele ainda esperava por mim.
Certo dia, ele me chegou manso, como sempre fazia. Eu, sem nem mesmo saber quem era, repousei em seu colo e senti o cansaço das mãos que gotejavam o suor de uma longa jornada. Havia andado tanto para encontrar-me. Ali recostei e escutei tudo o que havia para me dizer.
Disse-me em silêncio. Não falou nada. Apenas olhou meus olhos e pôs em mim a esperança que eu havia perdido tanto tempo atrás. Eu apenas reconhecia a sua voz no embalar de uma doce canção. Não sei bem, até hoje, o que queria de mim, só sei que ele me olhou...
Hoje a saudade bateu forte. Lembrei-me dos dias em que sempre me esperava. Eu sabia de sua vinda em cada madrugada: velava-me sempre. Percebi que quem o deixara era eu. Contudo, ele não havia saído de mim.
Hoje, como sempre, ele sentou ao meu lado. Calmo, não me percebi de sua presença, quando me dei conta, não contive o abraço, e conversamos...
Pai, não sei bem por onde eu tenho andando, apenas ando e percorro os caminhos que desconheço e não sei onde darei. Queria mais uma vez escutar a tua voz que sempre me fazia pensar em cada passo. Hoje não nego que tenho medo, mesmo sabendo que tu não tens me abandonado. Reconheço tuas palavras do silêncio de meu coração e silencio diante de tua voz. Apenas quero recobrar meus sonhos e estar mais uma vez em tua presença. Não ando bem... Tenho saudade de cada consolo, caminhada... Quando tinha medo e você dava a mão. Quando via nada dar certo, e você me dizia: coragem. Sempre acreditei que tudo o que me acontece, tem a tua presença. Hoje você me chegou apenas em um sorriso, e descobri que a vida é bem mais que palavras soltas ao vento. Descobri que o silêncio vale mais que as palavras, e a vida não é nada mais que olhar nos teus olhos e seguir a tua direção. Dá-me tua mão. Não me nega teu sorriso para que possa conter as minhas lágrimas... Pai, não me esquece. Eu sinto saudades.

sábado, 9 de maio de 2009

Nunca pensei o tempo como algo que me deixasse na confusão de um sonho. Sempre pensei a vida muito mais que as palavras... Talvez o tempo me ensine a refletir melhor nas certezas do mais profundo mar. Espero na esperança do céu e das estrelas que guiam minha alma na escuridão. Pressinto em teus olhos o resto de minha alma. Sei que minha vida na tua vai se tornando concreta, e o tempo só firma mais cada espaço. Compreendo a nossa distância. Sei de cada ponto onde nos encontramos em nossos perdidos olhares. Distante, miro-te como miro as águas do mar... imerso num mundo sem fim, valho-me apenas dos fragmentos de nossos sonhos. Consolo-me em teu consolo, e sinto meu coração pulsar cada vez menos veloz. Morro-me em tua morte e me vivo em tua vida. Sei bem cada pedaço de nossas partes e conheço nossas mãos. Desconheço os teus medos, contudo, conheço bem as tuas certezas. Converto-me em parte de teu presente, transfigurando-me em sentido de teu futuro, dispersando teu passado... Quero apenas vida. Se puder, dá-me consolo. Meu coração deságua as lágrimas que os olhos desconhecem. Quero você aqui. Penso que as águas de um mar revolto te tragam frente a meus olhos da forma que sempre fomos. Se hoje não te reconheço bem frente a mim, peço apenas a tua voz para minha felicidade. Peço apenas o resto da melodia que desata de teus versos e aponta a direção de minha voz, para que, assim, eu possa cantar mais uma vez. Se hoje minha voz cala, é porque teus olhos não mais me falam.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Hoje tudo se faz noite. O céu guarda mais expectativas de mim do que eu mesmo. Meu coração pulsa rapidamente em cada palavra e os versos vão tornando-se vida e dor. O sol se esconde por traz de cada nuvem formada como não quisesse olhar-me os olhos. Foge de mim. É forte a chuva. O tempo vago é bem mais veloz do que imaginamos. Em meu coração, o que mais guardo do passado, é um pouco de raiva, muitas vezes daqueles que não sei quem são. Pessoas que passaram em tua vida e não na minha, e permanecem mais em mim do que em você. Outras apresentam-se junto a mim sob suas diversas formas. Queria compreender-me mais. Não sei bem se cada pessoa é de minha posse. Contudo, queria possuir aquelas que amo em minhas mãos. Queria que o passado de cada uma fosse meu. Já tentei apagar aquilo que passou oculto a mim e presente em você. Não consigo apartar o teu passado de mim. Meu passado para mim é vão, mas o teu, é a inquietude de minha alma. Uma nova tempestade ajudaria a dissipar o negro céu de hoje. E sobre o tempo imóvel, eu navego num mar sem fim... Amanhã segue-se o dia. Ato bem alto a vela de meu barco e lanço as redes ao mar... Pescarei uma nova vida em mim...
E quando dormia o sol, eu despertava. Era hora de reconhecer tudo o que eu não conhecia até então. Via meu céu pleno de estrelas apagadas e ante mim, um futuro incerto, cheio de certezas escondidas na ansia de uma alma perdida entre a realidade e as saídas de si mesmo. Esqueci meu presente. Recorri a um passado sem claridades e nele pude descobrir ainda vida pulsando em meio à lama de sangue que havia permanecido até então. Decidi limpar tudo o que estava naquele lugar semi-fétido, e entendi que a vida por alí havia passado deixando de lado algumas feridas ainda ebertas esperando alguem para juntá-las e cicatriza-las. Entendi que os verbos e as ações são quase que estáticos. Que existe um tempo imóvel que mesmo lentamente se move. Descobri que eu poderia "jogar" o tempo imovel no meu tempo e perceber que nem tudo passa totalmente. Percebi que muitas coisas passam, acontecimentos. A história é feita daquilo que não passa. Daquilo que permanece. Entendi também que a vida assim é feita: das partes que não se vão, de movimento lentíssimo, que faz permanecer vida pulsante em nosso peito. Assim a nossa história é feita de amor que não passa. Fica de nós sempre alguma coisa em outrem. Pelo menos, tento permanecer nos peitos que passei. Quero fazer diversas histórias de tempo imovel nos peitos de quem por mim dever estar. Penso que a vida é bem mais que um pequeno espaço de meses. Que o amor é algo mais constante que a inconstância de cada dia. Penso em minha miséria e a vejo permanente desde sempre. Percebo também algumas poucas virtudes, que sempre aconteceram e foram criadas nesse tempo imóvel, quase imperceptivel de mudanças. Assim, nas ondas do mar me prostro e percebo em cada espuma, uma história que passa, e por baixo tudo aquilo que permanece. Tendendo a ser passado, espero estar presente em tudo o que entrego em minha vida. Percebo passos passados e passos futuros. Espero que as minhas certezas de hoje e minhas decisões sejam sempre presente. Que meu tempo imóvel seja permanecido em tudo aquilo que preste. Espero que o poder de marcar as lembranças seja perpétuo. Que fiquemos uns nas memórias dos outros. Que sejamos em tudo o que somos dos outros. Espero em nós as certezas de hoje e do nosso amanhã. Talvez a vida nos entregue em alguns segundos as partes perdidas no nosso passado. Mas, alí está, simultaneamente nosso tempo imóvel, aquele em que as águas jamais apagarão em vista à praia. Descobri vida em meu peito e nas minhas possiveis certezas. Muita coisa passa, mas o passado permanece com força inacreditavel na memória de alguem que ama. Teu passado é assim, mais presente do que imaginas. Creio em meu presente e no teu presente e em tudo o que a vida ainda nos estregará. Te entrego meu suor de hoje e minha vida plena de feridas sangrando. Se ainda assim quiseres, te entrego meu peito aberto nas chamas de nossa dor. Creio que o tempo nao apaga nada, mas converte cada passo em outro passo permanente de dor e vida. Os ódios transformados em amor e os amores em ódio. Penso que um dia, tudo se transforme e seja muito simples olhar nos olhos de quem passou e dizer que se sente saudades. Que a vida nos entregue seu testamento mesmo que agora. Espero vida aqui. Espero para nós um futuro bem maior do que vemos em nós hoje. Espero para nós um tempo novo de mudanças.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Desculpe-me: sempre preciso do passado. Não adianta falar: isso é passado. Sempre sentirei necessidade dele. O passado é assim: encruento, não sai de nós. Nunca conseguirás apagá-lo de ti. Ficará marcado na tua alma. Ferida aberta sem cura. Assim o é, e teu passado, para mim, também é presente. Presente em ferida aberta sangrando. É em meu sangue que vejo o teu passado, em um futuro escrito no pulsar do teu coraçao. Teu passado não passa,é ferida aberta... e em meu peito, fere mais. Se de ti tentas apartar o passado, não o faças. Tua história já fora escrita. Apagar uma página de ti, é impossivel. Se olhar nos olhos e ver o que passou te causa espanto, não te olhes. Apenas vislumbra o incerto futuro, levado nas ondas de um mar calmo, que leva apenas solidão. E um barco... A vista de tudo, pega de teus remos, ata a vela ao céu, e navega para o infinito sem bússola ou mapa... Teu passado te carregará para as tuas profundesas, e assim, te encontrarás... Mudar, jamais mudarás... serás eternamente o que sempre fostes, o que escolhestes... e teu passado, se te deu felicidade e hoje não te recompensa... não adianta... Tu te presenteastes com ele... Nem o fogo te purificará... Ficarás apenas em marcas... com as marcas eternas daquilo que tu edificastes...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Soneto de Fylinto Elyseo

Soneto
Nasci; logo a meus pais custou dinheiro
O baptismo, que Deos nos dá de graça.
Tive uso de rasão; perdi a graça.
Dei-me a rol; chegou pascoa, dei dinheiro.
Quiz casar com huma moça? Mais dinheiro.
Brinquei com ella? Não briquei de graça;
Que aos nove mezes me custou a graça
Para o mergulhador capa, e dinheiro.
Morreo minha mulher: não lhe achei graça;
E menos graça no arbitral dinheiro
da offerta; que o prior não váe de graça.
Se o ser Christão requer sempre dinheiro
Como cumprem com dar graças de graça
Os que graças nos vendem por dinheiro?
(O Carapuceiro - quarta feira, 7 de fevereiro de 1838, nº 7)
Parece-me que o céu nunca fica claro. É bem verdade, que nas manhãs chuvosas, as nuvens encobrem o céu. Talvez, o meu firmamento seja assim, eternamente minado de uma chuva que nunca cai. Fica a lembrança de dias, onde, as lágrimas nos querem minar dos olhos, mas só gotejamos suor de nossas mãos. Nossos braços cansados esquecem de nosso trabalho, e nossas mãos, já não lembram de nossos desesperos.
O coração conhece quem somos. Tudo o que temos, em matéria de nós mesmos, devemos ao coração.