domingo, 11 de outubro de 2009

Já é tarde. Meus sonhos rastejam a memória daquilo que não é. Partindo de mim para outrem, vê-se perdido diante da realidade incorruptível e mentirosa dos olhos. Observava todos os lados. Poderia ser preso a qualquer instante por uma armadilha perdida diante de si mesmo. A morte era o de menos. Pensava nas palavras como formas concretas e mutáveis de sentido. O futuro era o reflexo da solidão do hoje. Apenas a areia alva da praia exorcizava as ideias sem nexo que se reflectiam em seu coração. Reconheceu sua miséria no último pedaço de pão mofado que recebera em seu quarto na noite anterior. Pingava-lhe às mãos as gotas de sangue e o vazamento que corria solto em sua cabeça. As janelas reflectiam uma fresta de luz, mecânica, não solar. Imediatamente, os raios contidos na sua memória, pululavam como formas concretas de absorver no passado, o presente. Reconhecia cada passo dado à distância de mil léguas. Reconhecia a cor da noite e o desespero dos seus. Reconheceu um grito desesperado, que saia da última noite que repousara em delírios sucessivos de dor e ódio. Seu coração era uma janela para o infinito. Ele se cruzava em dor e desespero e se crucificava com o Cristo em sua cruz. Aos seus pés, sabia das dores e dos desesperos. Como uma ovelha que não geme e é levada ao matadouro, assim ele permanecia. Calado, esperava a hora da sua morte como a vida se ia... cada gota suada era o sangue vertido sobre o chão. E se observava lentamente sob as luzes de um candeeiro. Uma voz lhe acordou do pesadelo. Contudo, ele voltava ao lado do que era seu, e desesperava aquilo que era esperado. Recobrou o sono, desfez as vestes de mortalha. Abriu a porta, e olhou a claridade que o cegava. Cego, não enxergava a realidade do mundo, e logo que descobriu os primeiros raios, deitou sua inocência ao chão, e desfez parte da sua integridade. Era um futuro incerto e medonho o daquele dia. Era um dia sem perspectivas de futuro, de sonhos e de dor. Apenas ia criando conceitos e metas sem muita pretensão de serem verdadeiros. Observou passos e passadas... reflectiu sobre o luar e perdeu tudo o que tinha num amor mal feito e desiludido. Perdeu todos os seus sonhos. Ganhou miséria no coração.