sexta-feira, 12 de março de 2010

Depois de algum tempo, percebeu cada passo dado na forma da variação. Entendeu a própria vida atrelada a de outrem. Já não mais desacorrentaria a alma. Seguiria cada novo sonho em outros sonhos... Partilhas comuns e desiguais. Diferenças iguais na essência. Outra forma de ser...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Após tanto caminhar, percebeu as diferenças... Diversos eram em muito. Em tudo separados, uniam-se pela matéria da vida. Talvez o tempo lhes ensine o necessário. Aprendam com as manhãs a construir os dias. Do pequeno único barco, navegavam, assim, em dois. Separados, contudo, ao lado... Os ventos sopravam em mesma direcção, todavia, distintas as embarcações. Em muito distintos... Juntos e separados... Unidos e diversos....
Escutou alguns passos. Passara a noite acordado, esperando o sol. Era tarde. A porta não abrira. Conhecia todas as saídas, contudo, estava perdido. O calor da noite o havia enlouquecido. O pão mofado ao chão revelava que não fora apenas uma noite. Estava calado na cortina dos sonhos. Não avistaria o mar até a abertura da porta por quem roubara-lhe as chaves do olhar. Podia caminhar. Breves passos. Contidos em si mesmos. Girava no mesmo espaço. Voltas e voltas. Percebeu o olhar na solidão. Lá fora chovia. Sabia que a chuva dificultava os caminhos. Encharcava os olhos e a doçura da terra amarga. Escutou passos. Não acreditou na força do que escutava. Sorriu para si mesmo. Observou a noite interior do olhar. Não podia ver o sol, se fosse dia, e da noite, apartado estava da lua. Não sabia mais o que fazer além de enlouquecer. Na última tentativa de caminhar, encontrou ao chão uma trave. Dela se pegou. Da porta trancada, contra ela, lançou o madeiro. Era dia. A luz do sol o fizera perder a visão dos primeiros raios. Percebeu novos caminhos. No fim da caminhada, quando já exausto, encontrou um olhar. Sereno, dera-lhe respostas às perguntas que até então fizera. Respondeu todas. Um olhar. Caminhar já não era mais ato solitário: davam-se as mãos. Os remos já não eram únicos e o pequeno barco já não transportava a dor de um coração sangrando em dor. Carregava a verdade do encontro das mãos e olhares até então perdidos. Daí então, as pegadas fazem-se múltiplas, as partidas múltiplas...
Caminhou largamente alguns passos. Desfez o tempo nas próprias mãos. Entendeu o futuro como parte presente do passado. Perdeu-se na miséria de esperar. Esperou na oportunidade de desesperar-se na oportunidade contida no peito desejoso da volta. Partia na esperança de voltar. Não conheceu tudo o que havia. Perdeu-se na matéria do tempo distante de si mesmo.
Era tarde. Nublava o céu entre o infinito e o previsto. Reconhecia as regras próprias do coração e as cordas que as atavam a alma. Pegou dos remos e desistiu. Preferiu esperar a chuva passar. Sentiu saudades de si próprio e desfez-se no raiar de um novo dia. Caminhou à alva areia. Partia como não chegara. Perdeu os passos. Desfez a neblina e atirou fogo a alma. Perdeu-se de si. Matou o que ainda existia de vida. Aprofundou o ser. Escreveu na areia os motivos da dor. Apagadas as letras pelas ondas, reconstruiu tudo nele próprio, e sem expressão, matou o presente, perfazendo o passado real como sempre fora.