segunda-feira, 5 de julho de 2010

Era já tarde da noite quando ele, de súbito, abriu a porta. Aquele vento frio percorria toda a sala escura a qual adentrara. Não mais escutava os uivos do mar... Havia deixado a beira da praia, dado as mãos a alguém que prometera o céu. Juntando ao seu mar o firmamento, tudo estaria completo: promessa de sonho. Compreendeu que as verdades ditas são as menos secretas: o coração é quem guarda as verdades não ditas e consome toda a lentidão do que nunca virá. Olhou nos olhos de quem roubara seu mar, com os olhos plenos de angústia. Calou-se. Logo após, murmurou, baixinho: quando você disse que iria estar comigo, eu acreditei. Viver essa solidão acompanhada não é o meu desejo. Não quero você vivendo em nau que navega paralela a minha, mas na minha. Quero viver contigo tua vida.... pegar tua mão... Olha ao menos nos meus olhos e vê tudo o que sinto num coração que já não se encontra. Apenas apresenta ferida aberta, sangrando. Prometeu curar minha alma, e abriu fenda. Pensei que você fosse estar comigo... Eu sou o nada de tua vida? Os restos? O que sobra é meu? Se era pra que eu vivesse só, me dizia... Não faço a tua felicidade... Depois disso tudo, ele partiu... Nunca mais foi visto o seu olhar. As águas do mar apagaram as suas últimas pegadas. Dos sonhos, nem o pó.