sábado, 25 de dezembro de 2010

E eu te pensei eternidade. Parte integrante de mim, contida no mais profundo de minha alma. Observei o céu escuro como se observa o dia, e nada ocultava à minha visão a clareza de nosso olhar. Ao pensar tua partida, eu calava e assombrava meus olhos, que foram seus... Nada era apenas meu... E eu andava atado às suas mãos, à sua alma, aos seus passos... Cada pegada uma marca. Cada olhar um encontro... As chegadas eram tantas que as partidas dissolviam-se nas lágrimas de um adeus curto,breve... na certeza de que amanhã tudo retornaria... Era bom quando eu ficava de longe te observando e você nem sabia que eu olhava e guardava... Ultimamente, aprendi que o amor é parte solúvel da alma... e a solidão é forma insistente e perene... Descobri que meu assombro era verdadeiro... Você partiu e deixou minha alma em chamas de amor e dor. E é por amar que sofro... Minha nau partiu liberta... como queira... fiquei aprisionado...

sábado, 23 de outubro de 2010

Estava só quando chegara a noite. A chuva não parava de amedrontar os sonhos contidos no fundo da alma desértica. A escuridão tomava conta da hora e da vida. Duvidava entre a partida e a chegada. A embarcação posta, pronta, estava para qualquer segundo: era tomar dos remos e ir-se. Não esperava o dia pelas horas já tardadas de um inverno sem fim. Não partia com pena de si mesmo. Revelava-se paupérrimo de ânimo e rico da miséria de ser. Não compreendia a essência de cada um. O que mais lhe causava dor era o individualismo contido e os medos da partida daquele olhar. Seu tempo era outro. Tudo se fazia diverso e as dúvidas, múltiplas. O espanto maior vinha por parte de um passado mais que presente, insistente em reaparecer nos tempos menos pertinentes. Na realidade, o outrem era o seu eu eterno. Laço marcado num tempo dissolvido e tragado aos poucos. Dissolvido e feito veneno contra si. Não há nada pior que o passado de outrem envenenar a alma. Não foram poucos os dias. O tempo é cruel com seus ministros. Mata-lhes a vontade e a certeza de ir-se. Quem vive do passado dos outros, sabe da presença eterna das obras de Clio. Sendo sacerdote, aprendeu a narrar o pôr do sol em sua própria imagem. Dissolveu o passado em caudaloso rio que todo o levou à imensidão do mar, sobrando dele os restos. Mas, a lança a ferir o peito era o eterno contínuo contido e acorrentado na alma de outrem...
Quando o sol insistia em apagar os últimos raios, a lua o observava do seu trono. As estrelas mais apressadas despontavam entre as poucas nuvens daquele dia. As mais preguiçosas só apareceriam com a escuridão. Tão escura estava a sua alma. Talvez o tempo soubesse remover tudo aquilo presente no coração. Não era apenas medo. O temor da perda era, e ainda o é, intenso. Não é pelo presente que punha seu jogo em valia. É por um passado perene que não se dissolve: não nele; em outrem. Pelos dias vividos de então, pode assegurar: mais felizes e intensos que os presentes. Na sua mansidão e inércia, não sabe o que é a vontade de ser. O vindouro é sempre temeroso. Seu medo é essa vontade de passado, que traz além de todas as imagens, a perpetuação dos sonhos e planos. Saudade vem e aperta a alma de tal modo que vem com a emoção. Sonha sempre com a sua alma cansada, atropelada pelas angústias de um passado tão presente, que não é seu. Basta reconhecer: tudo pode voltar. Assim, perde seu barco e a visão de si. Joga os remos ao mar. Navega num pequeno barco na busca incessante do desespero. As estrelas mais tímidas já se recolheram. O sol tardou o brilho e retardou a alma. Que o dia novo não o traga mais temor. Os últimos passados: medo, dor e desespero. Os planos: não te perder.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Era já tarde da noite quando ele, de súbito, abriu a porta. Aquele vento frio percorria toda a sala escura a qual adentrara. Não mais escutava os uivos do mar... Havia deixado a beira da praia, dado as mãos a alguém que prometera o céu. Juntando ao seu mar o firmamento, tudo estaria completo: promessa de sonho. Compreendeu que as verdades ditas são as menos secretas: o coração é quem guarda as verdades não ditas e consome toda a lentidão do que nunca virá. Olhou nos olhos de quem roubara seu mar, com os olhos plenos de angústia. Calou-se. Logo após, murmurou, baixinho: quando você disse que iria estar comigo, eu acreditei. Viver essa solidão acompanhada não é o meu desejo. Não quero você vivendo em nau que navega paralela a minha, mas na minha. Quero viver contigo tua vida.... pegar tua mão... Olha ao menos nos meus olhos e vê tudo o que sinto num coração que já não se encontra. Apenas apresenta ferida aberta, sangrando. Prometeu curar minha alma, e abriu fenda. Pensei que você fosse estar comigo... Eu sou o nada de tua vida? Os restos? O que sobra é meu? Se era pra que eu vivesse só, me dizia... Não faço a tua felicidade... Depois disso tudo, ele partiu... Nunca mais foi visto o seu olhar. As águas do mar apagaram as suas últimas pegadas. Dos sonhos, nem o pó.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Todos os livros, dispostos nessa estante, que por hora vês, são páginas lidas, marcadas e não vividas. Ali estão as viagens que não fiz, as pessoas com quem não estive e muitos momentos de solidão. Alguns lembram tempos antigos, inebriados de cólera. Outros, recordam paixão, paixões: algumas já adormecidas no espaço mais profundo e inabitável da alma. As paixões latentes ainda vibram nas mais diversas páginas ali recolhidas. Nenhuma conta a minha história. São histórias diversas, de outros, narradas e vividas em tempos remotos. Se desses mais de 300 volumes, um tivesse saído da minha pena, já valeria toda uma vida. Lembrar as páginas escritas por outros e tomá-las como suas. As imagens são formas de conceber a inércia contida de cada homem. Escrever e apagar é ato de heroísmo. Desde que comecei a escrever as minhas páginas, apenas sinto dor e desespero. É muito mais que parto: é aborto. Escolhe, recorta, copia, esquece, cola. O caminho longo, doloroso e discreto que passa dos olhos para a cabeça, da cabeça para as mãos e das mãos para o papel, é martírio. Cada palavra posta é uma gota de sangue derramada. Se agora observamos todos esses volumes, quantas gotas de sangue aqui não temos? Mas minhas vida é de pouco escrever. É mais fácil narrar a vida de outrem que a própria vida. Contudo, escrever biografia é uma forma letal de se viver. Dar nova forma ao que um dia foi, é matar espaços e constâncias do que eu não pude ver. Minha vida eu não a escrevo. Não tenho nada o que te contar. Tudo o que calquei nesse breve caminho, foram algumas páginas lidas, outras transcritas e citadas. Quando da juventude, escrevi alguns cadernos, os quais, entreguei a pessoas que amei. Contudo, nada foi meu. Recordo-me um amigo que me disse: deixa de conquistar folhas de papel, vai conquistar corações! Nunca dei ouvidos aquele amigo bem mais velho. Conquistei tantas páginas e poucos, bem poucos corações. Alguns foram conquistas de mentira, brincadeiras que me fizeram. Outros foram territórios perdidos em bravas guerras. Como não sou muito de luta em violência, deixei-lhes partir. Cada um sabe de si. Cada um sabe até onde pode e deve ir a sua liberdade. Nunca sonhei com correntes atadas ao meu coração, todavia, sempre busquei companhias ao meu lado. Livres, mas sabendo respeitar os passos seguros de cada coração. A liberdade é posse das tuas mãos. Nessa vida de pensar mais nos outros do que e mim, perdi minha nau. Não tenho pressa nem virtude de conquistador de espaços. No entanto, quando tentei te conquistar, era para estares comigo, na minha embarcação, e não no infinito do mar. Assim perco a terra, o mar e a visão de mim. Conquistei muitas páginas, mas não soube conquistar tua alma e teu coração. Escreverei tantas páginas quantas forem necessárias. Direi da derrota de minha nau liberta e das fugas apedrejadas de minha alma. Não falarei em explícito, todavia, entenderás. Cada página, uma nova conquista. E essa vida de escrever biografias, é mais letal que se imagina...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Enquanto partida de si mesmo, encontra a própria face desfeita ao chão. Compreendida toda a miséria que existia por aquele tempo, caminho três passos e sento-me. Sabia que não poderia esperar. O maior medo era o assombro de mim mesmo. A última chama apagara-se por brevidade da ilusão. Foram as palavras que cortaram minha carne e fizeram caminhos traçados de angústia e dor. Pior era sarar tudo aquilo. Traçar caminhos, metas improváveis: tudo era impossível: a força da palavra valia mais. Validava cada passo um sim ou não. Se a tribulação dos pensamentos existe e é verbalizada, se faz por exageros. Não mais falarei. Calarei meus passos num abismo profundo do meu peito. Apenas calarei e escutarei. Minhas palavras de nada servem, apenas geram irritação nas veias de outrem. Que seja o silêncio, meu dia e minha hora. Que adormeça em cada traço seu marcado.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Lançara, com os primeiros raios, a rede ao mar. Alguns poucos pescados, por alimento, teria naquela manhã. De coração preso e nau liberta, vivia. Marcava os primeiros passos como os últimos, e as lembranças como as mais recentes, as primeiras. Jamais libertara-se do que se foi. Mesmo que a ironia do verbo aconteça, o semblante e o coração refletem mais. Nunca partira. Jamais o que ficou partirá. E tudo permanece como antes fora. O frio percorre o corpo em chamas. A manhã e a tarde se foram. Mais uma vez, solitariamente acompanhado, escutaria um nome que não o seu, por sonho, para jogar algum termo da realidade. E os sonhos percorrem os espaços mais recônditos da alma. Plenitude de solidão acompanhada por miragem.

domingo, 25 de abril de 2010

... e como estava sentado sobre uma pedra, ergueu-se lentamente, assim como baixara o sol na tarde. Suas ideias seguiam ao sabor do vento. Escurecia mais uma vez e reiniciava a caminhada. Observava pegadas já marcadas na alva areia do caminho: as seguia. Percebeu que o chão calcado não era seu, que os caminhos trilhados e a vida não eram seus: pertenciam a outrem que deixara todas as marcas. Era como um substituto impróprio para um tempo solitário. Batera as sandálias, limpara a alma. Contudo, os mesmos remos e os mesmos barcos estavam lá, parados, esperando nova alma para dar-lhes vida. As lembranças não morrem. Muito menos as de um passado-presente-próximo. E é esse passado, esse viver-outrem, que o fere mais.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Depois de algum tempo, percebeu cada passo dado na forma da variação. Entendeu a própria vida atrelada a de outrem. Já não mais desacorrentaria a alma. Seguiria cada novo sonho em outros sonhos... Partilhas comuns e desiguais. Diferenças iguais na essência. Outra forma de ser...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Após tanto caminhar, percebeu as diferenças... Diversos eram em muito. Em tudo separados, uniam-se pela matéria da vida. Talvez o tempo lhes ensine o necessário. Aprendam com as manhãs a construir os dias. Do pequeno único barco, navegavam, assim, em dois. Separados, contudo, ao lado... Os ventos sopravam em mesma direcção, todavia, distintas as embarcações. Em muito distintos... Juntos e separados... Unidos e diversos....
Escutou alguns passos. Passara a noite acordado, esperando o sol. Era tarde. A porta não abrira. Conhecia todas as saídas, contudo, estava perdido. O calor da noite o havia enlouquecido. O pão mofado ao chão revelava que não fora apenas uma noite. Estava calado na cortina dos sonhos. Não avistaria o mar até a abertura da porta por quem roubara-lhe as chaves do olhar. Podia caminhar. Breves passos. Contidos em si mesmos. Girava no mesmo espaço. Voltas e voltas. Percebeu o olhar na solidão. Lá fora chovia. Sabia que a chuva dificultava os caminhos. Encharcava os olhos e a doçura da terra amarga. Escutou passos. Não acreditou na força do que escutava. Sorriu para si mesmo. Observou a noite interior do olhar. Não podia ver o sol, se fosse dia, e da noite, apartado estava da lua. Não sabia mais o que fazer além de enlouquecer. Na última tentativa de caminhar, encontrou ao chão uma trave. Dela se pegou. Da porta trancada, contra ela, lançou o madeiro. Era dia. A luz do sol o fizera perder a visão dos primeiros raios. Percebeu novos caminhos. No fim da caminhada, quando já exausto, encontrou um olhar. Sereno, dera-lhe respostas às perguntas que até então fizera. Respondeu todas. Um olhar. Caminhar já não era mais ato solitário: davam-se as mãos. Os remos já não eram únicos e o pequeno barco já não transportava a dor de um coração sangrando em dor. Carregava a verdade do encontro das mãos e olhares até então perdidos. Daí então, as pegadas fazem-se múltiplas, as partidas múltiplas...
Caminhou largamente alguns passos. Desfez o tempo nas próprias mãos. Entendeu o futuro como parte presente do passado. Perdeu-se na miséria de esperar. Esperou na oportunidade de desesperar-se na oportunidade contida no peito desejoso da volta. Partia na esperança de voltar. Não conheceu tudo o que havia. Perdeu-se na matéria do tempo distante de si mesmo.
Era tarde. Nublava o céu entre o infinito e o previsto. Reconhecia as regras próprias do coração e as cordas que as atavam a alma. Pegou dos remos e desistiu. Preferiu esperar a chuva passar. Sentiu saudades de si próprio e desfez-se no raiar de um novo dia. Caminhou à alva areia. Partia como não chegara. Perdeu os passos. Desfez a neblina e atirou fogo a alma. Perdeu-se de si. Matou o que ainda existia de vida. Aprofundou o ser. Escreveu na areia os motivos da dor. Apagadas as letras pelas ondas, reconstruiu tudo nele próprio, e sem expressão, matou o presente, perfazendo o passado real como sempre fora.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ao sair o sol, correu ao encontro do nada. Partia sem rumo ou direção. Reconhecia partes profundas do infinito. Sabia todas as dores da alma: estava perdido dentro de si. Distante do presente, representou-se em um passado que não era seu. Sofreu tudo o que via. Queria ter conhecido outro sol sob vaga escuridão. Os próprios sonhos já estavam sem direção. Sentou-se junto ao barco. Distante da água, refletia sobre as direções e as estações. Observou que vivendo um eterno inverno, as sementes plantadas ainda estavam sob o gelo: não morreram. Tomou uma pedra às mãos e a lançou longe. Escutou-se o baque. Mais nada. A reação dos olhos era a mesma constituída pelo coração. Nada mais solitário era do que havia sido. Pensou em partir, todavia, mantivera-se parado frente à alva areia do mar. Por mais de uma vez, o sangue gotejava das mãos. Em cada gota, os sonhos todos e a realidade partiam. Conquistava pensamentos, contudo, as pessoas todas foram embora. Deixaram-se partir sem mesmo oferecer um adeus.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

... quando pensava tudo terminado, ainda sobrava-lhe o que havia sido construído. Como forma de refazer-se aos poucos, foi acreditando que cada passo dado não fora apagado pelas ondas do mar. Barco com vela ao ar, recolhidas as armadilhas, desfez a nau. Soprava vento forte: suas mãos não souberam partir dali. Subitamente, seus olhos contemplavam a terra antiga, e o mar voltava calmo como outrora. Ele recolhia no peito as lágrimas e lançava ao rosto um breve sorriso. Nunca havia partido, contudo, retornava com a saudade que lhe era particular. No peito, tornava a bater um coração cansado de esperar. Tudo voltava ao normal. E ele esperava o mesmo olhar, no mesmo lugar. Jamais partira dali. Mesmo com a liberdade nas mãos, preferiu aquela atada às cordas e presa no olhar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Nas muitas tentativas de ler Pirandello, Chartier não deixou. Não culparia apenas ele... Koselleck e seus conceitos travaram a minha alma sem deixar seguir. Contudo, parti na direção do nada. Exausto, encontrei um abismo. Por não reconhecer meus passos, perdi-me. Alguém me chegou, tomou-me pela mão e me acompanha. Que teus passos não se afastem dos meus. Que tuas pegadas pisadas junto às minhas sejam breves e longas... assim como minha memória guardará tudo o que me dizes e te digo... e se um dia eu esquecer que te vi, apenas me entrega a lembrança presenteada, às tuas mãos, um dia...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Avistou o resto de luz que ainda havia. A lamparina não dissolvera-se. Era hora de partir. O medo tomava conta de seu ser, contudo, havia pressa. Necessário seria verter as gotas de suor diante do mar calmo da solidão. Olhou os próprios olhos refletidos em uma pequena poça d'água. Percebeu a vida passar velozmente... algo ainda permanecia: dor. Era o passado de outrem que o incomodava. As dores alheias eram suas... não sabia se os tormentos o eram de tal forma, ou seriam prazer. As palavras nem sempre refletem a alma. Tudo ia passando. O que permanecia era dor. Sangrava-lhe a visão. Tentou arrancar do peito toda a dor ainda suportada. Morria aos poucos.