quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Chi son? Sono un poeta.
Che cosa faccio? Scrivo.
E come vivo? Vivo!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Apenas queria matar os restos que insistiam em viver. Dominar os sonhos. Correr da vida como abraçar a morte. Era cruel, contudo, dava-lhe satisfação. Entendeu cada pedaço de si como restos que lhe sobravam. Por sobra, eliminados poderiam ser sem problemas. Conseguiu um resto de solidão sobre uma banca na beira da estrada: tomou para si como posse única de tudo o que teria em diante. Pegou dois remos abandonados ao rio. Singrou até não mais aguentarem os braços. Não mais havia esperança. Sua alma cansou de esperar. Morreu tudo. Não plantou nada para que germinasse. Teve medo de colher o fruto amargo da vida mais uma vez...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Baixando o sol, iniciava o sonho de um dia partir dali. Não era tão distante o destino a ser tomado. Com alguns minutos, veria a terra esperada, ou desesperada. Alguns dias, muitos, foram-lhe necessários por distância. Talvez o sonho fosse a forma mais concreta de estar junto de quem buscava. Não era apenas um destino: turbilhão de acontecimentos que se forjavam sem parar diante dos seus olhos. O amor era apenas uma dúvida inquietante de outrem que nada falava ou agia. Deixava a inércia prevalecer como forma natural de uma realidade oculta de matéria inexistente. Pensou a partida por um destino, e posteriormente, anunciava-se outro. Os minutos corriam velozes e as horas desencontravam-se. Seu coração apenas desesperava-se de não mais possuir destino. Tudo era dúvida: o destino, o gostar, a dor, o amor, a permanência. Nada exato era. Nada exato fora. Sem destino, nada percorreu. A dúvida transformou-se no ato de nunca mais verem-se. Partiu para outro céu. Num outro lugar. Talvez jamais o vejam. Morreu para tentar renascer. Se conseguir, será vitorioso. Se não, morra-se, enfim, a vida deste outrem como um nada disperso em si mesmo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Não esperava dor, contudo, sonhos e graças de um novo amanhecer. Desconheceu as dúvidas e dividiu o desespero consigo mesmo. Talvez o tempo o ensine o desprezo do desespero e a beleza do instante vivido. Caminhou alguns passos e percebeu-se só. Contemplou o que pisava. Percebeu o futuro sob os pés. Conhecia cada dor e angústia da alma. Breve o tempo e longo o espaço da espera. A brevidade significava os restos. Sopro marcado de tempo sem instante. Desistiu de sonhar. Depositou-se na angústia de se esvair. Não encontrou o presente no passado: o passado de outrem era a dor do seu presente. Caminhou para o nada e sempre se deparou com esse passado carregado de futuro e de presente. Deixou de existir a si mesmo. Desfaz-se nas poucas lágrimas que ainda possuía o seu olhar. O passado era tão presente: enclausurou o coração. Morreu na esperança de renascer. Esperou o sol para secar a semente: ele nunca apareceu. No entanto, seu passado estava seco; o de outrem, latejava em suas veias. Não renasceu. Morreu na esperança de esperar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Era noite. Desértico, o seu sonho insistia em sonhar. Não era necessário fechar os olhos. Tudo estava à sua frente. Estático, via cada minuto esvair-se como os segundos... Reconheceu nos sonhos realidade... não a que se buscava, contudo, seu oposto. Presenciou miséria num ato de saudade. Escondeu-se da própria sombra, e por esconderijo, sobraram-lhe as lágrimas. Talvez a sua miséria fosse ser quem sempre foi: ter amado mais aos outros que a si mesmo. Desfez-se de tudo o que havia em si: entregou-se demais... perdeu todos os seus segundos pelos outros... nada sobrou, apenas ele, desfeito, em pedaços...
Das suas últimas palavras nasciam as primeiras. Os olhos desconheceram a miséria do coração e partiram em busca do eterno. Compreendeu cada segundo como eternidade do que fica. Brotou tudo o que existe numa única forma de ser. Veio com o tempo num pedaço de saudade e perdeu as dúvidas na breve chama de uma vela que se calou. Olhos vistos nos de outrem e encontrou-se como busca fatal ao que lhe faltava. Achou em si o último suspiro da saudade vindoura do segundo anterior. Sentiu o peito arder em chamas e compreendeu a saudade na permanência profunda de sempre ficar. Olhos os próprios olhos e percebeu o lugar de onde sairiam as lágrimas nos próximos dias. Caminhou com a fé que lhe era própria. Não perdeu, até agora, seus últimos passos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

... e do que era fragmento, apenas sobrara restos. O sol escondia seus raios. Era tempo de partir. Nunca partiu antes do amanhecer. Esperava nascer o sol, quantas vezes necessário fosse. Perdeu alguns pensamentos na espuma de uma onda que lhe molhara os pés. Esqueceu que vivia durante o sono banhado pelas águas de um mar nem tão calmo ou feroz. Todavia, era momento de partir mesmo sob a lua. Não lembrara sequer o rosto que possuia. Apenas esperava à beira do abismo. Uniu-se à solidão em um momento de dor. Deitou pão e vinho sobre a areia alva. Corpo e sangue enfraqueciam diante do desespero de saber que se perderia de si mesmo em poucos instantes. Acreditou apenas que não mais existiria. Distante, próximo, onde fosse, havia recuperado a dor. Escrevia uma história: "Um homem vivera 25 anos perdido da sua imagem." Assim iniciava o grande caminho a ser percorrido...