terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ao sair o sol, correu ao encontro do nada. Partia sem rumo ou direção. Reconhecia partes profundas do infinito. Sabia todas as dores da alma: estava perdido dentro de si. Distante do presente, representou-se em um passado que não era seu. Sofreu tudo o que via. Queria ter conhecido outro sol sob vaga escuridão. Os próprios sonhos já estavam sem direção. Sentou-se junto ao barco. Distante da água, refletia sobre as direções e as estações. Observou que vivendo um eterno inverno, as sementes plantadas ainda estavam sob o gelo: não morreram. Tomou uma pedra às mãos e a lançou longe. Escutou-se o baque. Mais nada. A reação dos olhos era a mesma constituída pelo coração. Nada mais solitário era do que havia sido. Pensou em partir, todavia, mantivera-se parado frente à alva areia do mar. Por mais de uma vez, o sangue gotejava das mãos. Em cada gota, os sonhos todos e a realidade partiam. Conquistava pensamentos, contudo, as pessoas todas foram embora. Deixaram-se partir sem mesmo oferecer um adeus.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

... quando pensava tudo terminado, ainda sobrava-lhe o que havia sido construído. Como forma de refazer-se aos poucos, foi acreditando que cada passo dado não fora apagado pelas ondas do mar. Barco com vela ao ar, recolhidas as armadilhas, desfez a nau. Soprava vento forte: suas mãos não souberam partir dali. Subitamente, seus olhos contemplavam a terra antiga, e o mar voltava calmo como outrora. Ele recolhia no peito as lágrimas e lançava ao rosto um breve sorriso. Nunca havia partido, contudo, retornava com a saudade que lhe era particular. No peito, tornava a bater um coração cansado de esperar. Tudo voltava ao normal. E ele esperava o mesmo olhar, no mesmo lugar. Jamais partira dali. Mesmo com a liberdade nas mãos, preferiu aquela atada às cordas e presa no olhar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Nas muitas tentativas de ler Pirandello, Chartier não deixou. Não culparia apenas ele... Koselleck e seus conceitos travaram a minha alma sem deixar seguir. Contudo, parti na direção do nada. Exausto, encontrei um abismo. Por não reconhecer meus passos, perdi-me. Alguém me chegou, tomou-me pela mão e me acompanha. Que teus passos não se afastem dos meus. Que tuas pegadas pisadas junto às minhas sejam breves e longas... assim como minha memória guardará tudo o que me dizes e te digo... e se um dia eu esquecer que te vi, apenas me entrega a lembrança presenteada, às tuas mãos, um dia...