sexta-feira, 29 de maio de 2009

E o céu continua escuro como sempre. Vejo muito além da calma do mar e das revoltosas ondas que batem contra minha alma. Busco uma ilusão perdida no espaço mais escuro de meus pensamentos. Encontro apenas o pó de um passado que não é meu, mas suponho que faça parte de meu presente. Acredito em virtude quando ela não mais se desfaça em ilusão. À vida, dou apenas alguns segundos de crédito diluídos em lágrimas, suor e sangue (adicionados ao pó de teu passado edificam a dor presente em meu peito). Acreditar não é muito mais do que ser. Acredito que não mais acredito. Sinto o gelar das mãos e o frio da alma...
A chuva cai. Insuportavelmente sigo os caminhos mal percorridos por outrem, que não eu. É teu passado que me deixa assim: inquieto, magoado, descrente...
E tudo continua vazio como estivesse pleno, repleto. As ilusões nos preenchem mais que as verdades, e as verdades dão razão às nossas inquietudes. Espero na certeza de um vazio repleto de plenitude.

sábado, 23 de maio de 2009

Vivemos improvisando nos palcos dos dias. Cada dia é um novo palco, e improvisamos a vida. E viver a vida, é estar sempre de improviso. As vezes é preciso ensaiar cenas de drama, outras de humor... O necessário é sempre estar com o papel pronto e apresentar sem medo. A vida é isso, não é jogo, mas se precisa jogar. É necessário entender cada jogada, cada cena, e assim, prostrar-se diante de si mesmo e dizer: o tempo é agora.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

LLAMA DE AMOR VIVA

1. ¡Oh llama de amor viva, que tiernamente hieres de mi alma en el más profundo centro! Pues ya no eres esquiva, acaba ya, si quieres; ¡rompe la tela de este dulce encuentro!
2. ¡Oh cauterio suave! ¡Oh regalada llaga! ¡Oh mano blanda! ¡Oh toque delicado, que a vida eterna sabe, y toda deuda paga! Matando. muerte en vida la has trocado.
3. ¡Oh lámparas de fuego, en cuyos resplandores las profundas cavernas del sentido, que estaba oscuro y ciego, con extraños primores calor y luz dan junto a su Querido!
4. ¡Cuán manso y amoroso recuerdas en mi seno, donde secretamente solo moras y en tu aspirar sabroso, de bien y gloria lleno, cuán delicadamente me enamoras!
(S. Juan de la Cruz)
Hoje pela manhã, quando o sol ainda não despontara, ergui meus olhos aos céus e descobri que sentia saudades. Era algo na alma. Quanto mais observava o firmamento, mais firmemente eu sentia o tremor de minhas mãos. Sentia que como eu o esperava, ele ainda esperava por mim.
Certo dia, ele me chegou manso, como sempre fazia. Eu, sem nem mesmo saber quem era, repousei em seu colo e senti o cansaço das mãos que gotejavam o suor de uma longa jornada. Havia andado tanto para encontrar-me. Ali recostei e escutei tudo o que havia para me dizer.
Disse-me em silêncio. Não falou nada. Apenas olhou meus olhos e pôs em mim a esperança que eu havia perdido tanto tempo atrás. Eu apenas reconhecia a sua voz no embalar de uma doce canção. Não sei bem, até hoje, o que queria de mim, só sei que ele me olhou...
Hoje a saudade bateu forte. Lembrei-me dos dias em que sempre me esperava. Eu sabia de sua vinda em cada madrugada: velava-me sempre. Percebi que quem o deixara era eu. Contudo, ele não havia saído de mim.
Hoje, como sempre, ele sentou ao meu lado. Calmo, não me percebi de sua presença, quando me dei conta, não contive o abraço, e conversamos...
Pai, não sei bem por onde eu tenho andando, apenas ando e percorro os caminhos que desconheço e não sei onde darei. Queria mais uma vez escutar a tua voz que sempre me fazia pensar em cada passo. Hoje não nego que tenho medo, mesmo sabendo que tu não tens me abandonado. Reconheço tuas palavras do silêncio de meu coração e silencio diante de tua voz. Apenas quero recobrar meus sonhos e estar mais uma vez em tua presença. Não ando bem... Tenho saudade de cada consolo, caminhada... Quando tinha medo e você dava a mão. Quando via nada dar certo, e você me dizia: coragem. Sempre acreditei que tudo o que me acontece, tem a tua presença. Hoje você me chegou apenas em um sorriso, e descobri que a vida é bem mais que palavras soltas ao vento. Descobri que o silêncio vale mais que as palavras, e a vida não é nada mais que olhar nos teus olhos e seguir a tua direção. Dá-me tua mão. Não me nega teu sorriso para que possa conter as minhas lágrimas... Pai, não me esquece. Eu sinto saudades.

sábado, 9 de maio de 2009

Nunca pensei o tempo como algo que me deixasse na confusão de um sonho. Sempre pensei a vida muito mais que as palavras... Talvez o tempo me ensine a refletir melhor nas certezas do mais profundo mar. Espero na esperança do céu e das estrelas que guiam minha alma na escuridão. Pressinto em teus olhos o resto de minha alma. Sei que minha vida na tua vai se tornando concreta, e o tempo só firma mais cada espaço. Compreendo a nossa distância. Sei de cada ponto onde nos encontramos em nossos perdidos olhares. Distante, miro-te como miro as águas do mar... imerso num mundo sem fim, valho-me apenas dos fragmentos de nossos sonhos. Consolo-me em teu consolo, e sinto meu coração pulsar cada vez menos veloz. Morro-me em tua morte e me vivo em tua vida. Sei bem cada pedaço de nossas partes e conheço nossas mãos. Desconheço os teus medos, contudo, conheço bem as tuas certezas. Converto-me em parte de teu presente, transfigurando-me em sentido de teu futuro, dispersando teu passado... Quero apenas vida. Se puder, dá-me consolo. Meu coração deságua as lágrimas que os olhos desconhecem. Quero você aqui. Penso que as águas de um mar revolto te tragam frente a meus olhos da forma que sempre fomos. Se hoje não te reconheço bem frente a mim, peço apenas a tua voz para minha felicidade. Peço apenas o resto da melodia que desata de teus versos e aponta a direção de minha voz, para que, assim, eu possa cantar mais uma vez. Se hoje minha voz cala, é porque teus olhos não mais me falam.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Hoje tudo se faz noite. O céu guarda mais expectativas de mim do que eu mesmo. Meu coração pulsa rapidamente em cada palavra e os versos vão tornando-se vida e dor. O sol se esconde por traz de cada nuvem formada como não quisesse olhar-me os olhos. Foge de mim. É forte a chuva. O tempo vago é bem mais veloz do que imaginamos. Em meu coração, o que mais guardo do passado, é um pouco de raiva, muitas vezes daqueles que não sei quem são. Pessoas que passaram em tua vida e não na minha, e permanecem mais em mim do que em você. Outras apresentam-se junto a mim sob suas diversas formas. Queria compreender-me mais. Não sei bem se cada pessoa é de minha posse. Contudo, queria possuir aquelas que amo em minhas mãos. Queria que o passado de cada uma fosse meu. Já tentei apagar aquilo que passou oculto a mim e presente em você. Não consigo apartar o teu passado de mim. Meu passado para mim é vão, mas o teu, é a inquietude de minha alma. Uma nova tempestade ajudaria a dissipar o negro céu de hoje. E sobre o tempo imóvel, eu navego num mar sem fim... Amanhã segue-se o dia. Ato bem alto a vela de meu barco e lanço as redes ao mar... Pescarei uma nova vida em mim...
E quando dormia o sol, eu despertava. Era hora de reconhecer tudo o que eu não conhecia até então. Via meu céu pleno de estrelas apagadas e ante mim, um futuro incerto, cheio de certezas escondidas na ansia de uma alma perdida entre a realidade e as saídas de si mesmo. Esqueci meu presente. Recorri a um passado sem claridades e nele pude descobrir ainda vida pulsando em meio à lama de sangue que havia permanecido até então. Decidi limpar tudo o que estava naquele lugar semi-fétido, e entendi que a vida por alí havia passado deixando de lado algumas feridas ainda ebertas esperando alguem para juntá-las e cicatriza-las. Entendi que os verbos e as ações são quase que estáticos. Que existe um tempo imóvel que mesmo lentamente se move. Descobri que eu poderia "jogar" o tempo imovel no meu tempo e perceber que nem tudo passa totalmente. Percebi que muitas coisas passam, acontecimentos. A história é feita daquilo que não passa. Daquilo que permanece. Entendi também que a vida assim é feita: das partes que não se vão, de movimento lentíssimo, que faz permanecer vida pulsante em nosso peito. Assim a nossa história é feita de amor que não passa. Fica de nós sempre alguma coisa em outrem. Pelo menos, tento permanecer nos peitos que passei. Quero fazer diversas histórias de tempo imovel nos peitos de quem por mim dever estar. Penso que a vida é bem mais que um pequeno espaço de meses. Que o amor é algo mais constante que a inconstância de cada dia. Penso em minha miséria e a vejo permanente desde sempre. Percebo também algumas poucas virtudes, que sempre aconteceram e foram criadas nesse tempo imóvel, quase imperceptivel de mudanças. Assim, nas ondas do mar me prostro e percebo em cada espuma, uma história que passa, e por baixo tudo aquilo que permanece. Tendendo a ser passado, espero estar presente em tudo o que entrego em minha vida. Percebo passos passados e passos futuros. Espero que as minhas certezas de hoje e minhas decisões sejam sempre presente. Que meu tempo imóvel seja permanecido em tudo aquilo que preste. Espero que o poder de marcar as lembranças seja perpétuo. Que fiquemos uns nas memórias dos outros. Que sejamos em tudo o que somos dos outros. Espero em nós as certezas de hoje e do nosso amanhã. Talvez a vida nos entregue em alguns segundos as partes perdidas no nosso passado. Mas, alí está, simultaneamente nosso tempo imóvel, aquele em que as águas jamais apagarão em vista à praia. Descobri vida em meu peito e nas minhas possiveis certezas. Muita coisa passa, mas o passado permanece com força inacreditavel na memória de alguem que ama. Teu passado é assim, mais presente do que imaginas. Creio em meu presente e no teu presente e em tudo o que a vida ainda nos estregará. Te entrego meu suor de hoje e minha vida plena de feridas sangrando. Se ainda assim quiseres, te entrego meu peito aberto nas chamas de nossa dor. Creio que o tempo nao apaga nada, mas converte cada passo em outro passo permanente de dor e vida. Os ódios transformados em amor e os amores em ódio. Penso que um dia, tudo se transforme e seja muito simples olhar nos olhos de quem passou e dizer que se sente saudades. Que a vida nos entregue seu testamento mesmo que agora. Espero vida aqui. Espero para nós um futuro bem maior do que vemos em nós hoje. Espero para nós um tempo novo de mudanças.