segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ao ver-se reprimido pela súplica de um coitado que por ali passava, sentiu saudades das noites ao relento. Caminhou sem saber aonde chegaria, e encontrou um bosque mortal à calmaria dos seus sonhos. Esqueceu quem passava e fitou seu passado na forma concreta de receber o presente. Morria aos poucos quando a vida o entregava morte. Sonhou aos poucos, quando poucos sonhos ainda restavam por sonhar. Perdeu a memória quando do primeiro raio do sol fugia e renascia a noite calma do seu eu disperso nas palavras ásperas da solidão. Partiu ao desconhecido sentindo saudades da dor. Desconheceu o prazer da alma e desconjuntou seu ódio nas lágrimas percorridas por sua face medonha. Esqueceu que ainda podia viver e viveu esquecendo que poderia morrer. Não era sonho. Tudo era real como nada imaginário fosse. Recolheu suas últimas esperanças num vaso e recolocou sua alma num pote de saudade. Adoçou a matéria das suas mãos com um leve sonho de risos. Contudo, era apenas sonho. Pensou que lágrimas lavavam almas, mas percebeu que lágrimas apenas lavavam olhos. Conheceu as duras penas da prisão do seu próprio ser, e se prendeu na miséria de hoje, pensando na miséria de outrem, ontem. Não deixou de chorar. Quanto mais calava o corpo, a alma desconhecia as virtudes secretas do seu eu. E ele pousava os sonhos em uma casca de ovo e devolvia-o a terra perdendo a graça de criar uma nova criação. Não morreu e nem viveu. Apenas avistou o mar e escutou música. Percebeu alguns gritos desesperados e mal marcados, e contou as horas como fossem segundos. Fugiu daqui para o fim do corredor estático como a certeza de não mais querer falar ou abraçar. Porém, ouço os seus passos repetidamente e em cadência, e subo às portas de minhas armadilhas para que ele não me leve. Eu apenas queria um pouco de paz junto de você, ele me disse. Mas, prefiro a solidão dos silêncios fáceis e a face da saudade do que ainda pode vir. Soaria nova voz na dimensão dos meus ouvidos e diria que volto na tinta de uma caneta mal escrita. O vento que sopra me acolhe na calma. Eu sou filho de mim mesmo e me suporto aqui onde vivo. Se não mais vivo, é que me tiraram vida e alma, coração e sofrimento, e me entregaram um prazer que não queria. Descobri aqui, uma nova maneira de ser quem sou. Descobri que posso renascer quantas vezes quiser e for necessário: basta você deixar. Lute por mim e te entregarei as chaves que precisas. Se preciso for, morrerei de novo, e te entregarei tudo. No calar do meu sorriso...