terça-feira, 27 de abril de 2010

Lançara, com os primeiros raios, a rede ao mar. Alguns poucos pescados, por alimento, teria naquela manhã. De coração preso e nau liberta, vivia. Marcava os primeiros passos como os últimos, e as lembranças como as mais recentes, as primeiras. Jamais libertara-se do que se foi. Mesmo que a ironia do verbo aconteça, o semblante e o coração refletem mais. Nunca partira. Jamais o que ficou partirá. E tudo permanece como antes fora. O frio percorre o corpo em chamas. A manhã e a tarde se foram. Mais uma vez, solitariamente acompanhado, escutaria um nome que não o seu, por sonho, para jogar algum termo da realidade. E os sonhos percorrem os espaços mais recônditos da alma. Plenitude de solidão acompanhada por miragem.

domingo, 25 de abril de 2010

... e como estava sentado sobre uma pedra, ergueu-se lentamente, assim como baixara o sol na tarde. Suas ideias seguiam ao sabor do vento. Escurecia mais uma vez e reiniciava a caminhada. Observava pegadas já marcadas na alva areia do caminho: as seguia. Percebeu que o chão calcado não era seu, que os caminhos trilhados e a vida não eram seus: pertenciam a outrem que deixara todas as marcas. Era como um substituto impróprio para um tempo solitário. Batera as sandálias, limpara a alma. Contudo, os mesmos remos e os mesmos barcos estavam lá, parados, esperando nova alma para dar-lhes vida. As lembranças não morrem. Muito menos as de um passado-presente-próximo. E é esse passado, esse viver-outrem, que o fere mais.